Juão Nÿn lança "Asé", single criado com provérbio potiguara

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“A gente nasce, a gente vive, a gente morre… Mas o nosso povo permanecerá nesta terra para sempre”. Este é o significado que o provérbio potiguara recitado pelo ativista e estudante Poran Potiguara, liderança indígena do Povo Potiguara da Paraíba, em uma Câmara do Senado de Brasília. Foi ali que o multiartista potiguara Juão Nÿn ouviu o provérbio pela primeira vez, e desde então vem sendo impactado pela força e significado que ele carrega. O artista conectou o ditado com uma performance que realiza desde 2015, em que renasce de dentro de uma betoneira, ferramenta responsável pela mistura do cimento e, então, construção de qualquer prédio. Tal relação, do equipamento como “útero” de toda cidade, desencadeou uma metáfora da força da natureza, com toda planta que persiste e nasce do asfalto. “Carrego comigo esta perspectiva de que a gente vai continuar nascendo onde plantarem cimento”, afirma Juão. A partir de tal conexão surge “ASÉ”, segundo single apresentado do disco que marca a estreia solo do artista. Ouça a canção aqui e assista ao registro documental com os bastidores da gravação aqui.

O provérbio contemporâneo que inspirou a canção foi criado por um ancião chamado Josafá Freire, e, agora, tem sua potência eternizada em “ASÉ”. “Desde que ouvi este provérbio pela primeira vez fui impactado pelas conexões que me atravessaram. A performance que faço há quase 10 anos, em que eu nasço de uma betoneira, é uma reafirmação de que vamos continuar nascendo, brotando da desertificação”, conta Juão, que recita o provérbio: “ASÉ O'AR - ASÉ OIKOBÉ - ASÉ OMANÕ - YANDE ANAMA TE OIKOBÉ KÓ YBYPE AUIERAMANHENE” 

Marcando o encontro entre os Povos Potiguaras de Paraíba e do Rio Grande do Norte, o single resgata uma história que começou no século 17, quando o estado que abriga a capital João Pessoa acompanhou o líder indígena Pedro Poty, lutando ao lado dos holandeses. Enquanto isso, o Povo Potiguara do Rio Grande do Norte ficou do lado dos portugueses, liderados por Felipe Camarão, o que causou uma divisão histórica. “Ver esta conexão, assim como a do cocar potiguara, mostra como a nossa história está conectada, a partir da nossa cosmovisão e cultura. Enfatizando que as fronteiras que os estados coloniais inventaram não persistiram”, afirma Nÿn. 

Para elevar a potência da canção, Juão convidou dois artistas potiguaras da Paraíba para compor a letra baseada neste provérbio. Clara Potiguara e Valber Félix se juntaram a Nÿn e o produtor Kastrup em uma Tábua Potiguara, que se tornou estúdio para o nascimento de todo o projeto. “O disco nasceu com a nossa ida, minha e de Kastrup, para o território potiguara da Paraíba, onde vivenciamos uma semana de encontros, composições e gravações. Nós captamos tudo dentro de uma casa indígena de palha, ao lado de onde é a Baía da Traição”, lembra Juão, que finaliza: “A nossa geração é a que está reconstruindo e reconectando tudo, curando algumas dores do passado do nosso povo e do Brasil”.

A imagem é de Natalia Tupi.

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