E se os personagens das canções de Adoniran Barbosa ganhassem vida por meio de homônimos? Como seria o antes e o depois dos episódios relatados em canções atemporais de um dos compositores mais famosos da cidade de São Paulo? Buscar inspiração nesses personagens e mostrar como ôo compositor mais paulista de todos os tempos ainda é muito atual é o mote de AB Cenas Paulistanas, espetáculo que irá ocupar o palco na Casa da Gioconda, espaço cultural que fica no bairro do Bixiga, onde os faróis de pedestres estampam o rosto de Adoniran. A estreia acontece no dia 25 de março, sábado, às 19h30. Com texto e direção de Milton Morales, o espetáculo tem ainda a direção musical de William Guedes. No elenco, os atores Alexandre Meirelles, Carlos Morelli, Cy Teixeira, Frederico Mendonça, João Attuy, Joaz Campos, Joice Jane Teixeira, Leandro Madeiros e Thiago Carreira. O projeto foi contemplado no Edital do Programa de Ação Cultural - ProAC Expresso Direto No 37/2021 - “Fomento Direto a Projetos Culturais Aprovados no ProAC Expresso ICMS em 2020 e 2019” da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. Os ingressos são gratuitos.
Algumas gerações depois do nascimento dos famosos personagens, seus descendentes homônimos ainda estão na cidade, vivendo as lutas e as contradições desta metrópole. Nove atores e três músicos, além de assumirem 13 personagens, antes de tudo são moradores de São Paulo, e como pessoas, são o espelho real da cidade na multiplicidade de seus tipos. Nunca é demais buscar no passado a inspiração para novos trabalhos, principalmente artistas que atravessam gerações, são um símbolo do sentimento paulistano e fazem parte do imaginário coletivo da cidade. Ao investigar o cidadão comum, o espetáculo joga com camadas que evidenciam tanto a vida pessoal quanto o sistema socioeconômico onde estão inseridos. Os destinos a eles atrelados correspondem apenas às escolhas pessoais ou estão conectados numa grande rede?
Adoniran usou um tanto de melancolia para traçar como ninguém a cara do paulistano comum. E como seriam esses personagens em 2023? Que jovem é esse que mora no Jaçanã e precisa ir embora antes do último trem? Quem é Iracema, vítima de atropelamento na avenida São João? Matogrosso, Joca e Maloca são moradores de rua. Quantas pessoas assim cruzamos todos os dias?
O diretor e dramaturgo Milton Morales disse que lançou uma lupa social sobre as canções de Adoniran e fez esse exercício de imaginação. “Sempre imaginei como seriam os personagens das músicas do Adoniran Barbosa na vida real. Em 2016, ganhei um edital para tirar essa ideia do papel e resolvi me debruçar sobre as canções dele, criando um fio que interligasse as pessoas ali retratadas. Adoniran nos obriga a olhar para a cidade de maneira mais humana e nos conecta com os reais problemas urbanos. Falamos sobre fome, pessoas em situação de abandono nas ruas, violência contra a mulher… mas isso fica sempre muito num problema. As músicas do Adoniran nos lembram que esses são problemas vividos por pessoas. Que existem histórias ali”, explica.
Milton explica que o trabalho dele na direção é muito em cima do texto, além de criar uma dinâmica em cena que ajude esses personagens a equilibrarem a melancolia de Adoniran Barbosa e seu humor. “Todos conhecem essas músicas e sabem o que vai acontecer. Mas é gostoso ver que fica um suspense e uma dúvida se aquilo realmente se concretiza”.
As cenas se desenrolam num cenário de praticáveis, simples, mas engenhoso. A ideia é que eles mudem a cada entrada, trazendo poucos elementos que ajudem a retratar espaços da cidade, um assentamento urbano, um cortiço ou uma farmácia, contribuindo para um dinamismo em cena.
A imagem é de Ronaldo Gutierrez.
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